“Você acha que teve alguma culpa pelo fim do seu relacionamento?”
A pergunta chegou essa semana na caixinha do Instagram. Gosto de perguntas que geram reflexão sem carregar um tom ofensivo — mesmo sabendo que elas são raras, já que há quem passe do limite do bom senso quando envia uma pergunta para alguém, buscando apenas satisfazer a sua própria curiosidade, sem considerar que existe um ser humano do outro lado, e não uma máquina.
Respondi em um story, mas decidi completar por aqui, já que tantas mulheres me escreveram quando contei sobre o fim do meu namoro, há mais de um mês.
Por algumas semanas, o que mais senti foi exatamente isso: culpa.
Culpa por ter errado.
Culpa por ter perdido meu namorado.
Culpa por não ter contornado a situação.
Culpa por ter interrompido o sonho de ter uma família com essa pessoa.
Já são muitos anos de análise, e sei bem o papel que o sentimento de culpa ocupa na minha vida. Talvez o seu calcanhar de Aquiles seja em outro ponto, e descobrir qual é certamente te ajudará a não se afundar quando alguma situação te puxar para o já conhecido buraco em que costumamos cair quando não nos conhecemos o suficiente.
Foram muitas sessões de análise falando sobre culpa. Foram muitas sessões de análise chorando como se implorasse para sentir qualquer outra dor no mundo que não fosse aquela que o fim do meu relacionamento provocou.
Mas foi exatamente essa dor que me ajudou a me reerguer com ainda mais força e fazer o que precisava ser feito nos outros âmbitos da minha vida. Afinal de contas, nem você e nem eu temos apenas o lado amoroso para cuidar. Quem é mãe, entende dessas outras obrigações com ainda mais profundidade.
Na última semana, quando sentei para falar com a minha psicóloga, algo estranho tinha acontecido.
— Mônica, não tenho do que reclamar hoje para você.
A frase era tão verdadeira, que cheguei a sorrir. E sorrir era algo que eu não fazia há algumas semanas, já que estava envolvida demais com a dor de viver pela primeira vez uma situação em que alguém termina um relacionamento comigo.
É impressionante o quanto conseguimos nos tornar ensimesmadas diante de certos problemas…
Passei a sessão de terapia inteira dizendo tudo o que estava fazendo para não me afundar. Enumerei cada ação que tive pensando em me reerguer — e foram várias. Enquanto contava para a Mônica, percebi que o sentimento violento de culpa que eu carregava há mais de um mês havia se dissipado.
Foi-se a culpa, ficou a responsabilidade. Dessa, eu não posso e nem pretendo fugir.
Eliminar a culpa e assumir minha responsabilidade foi um dos pontos para mudar o cenário de tristeza em que eu me encontrava. O outro foi mudar a forma como estava olhando para o meu próprio problema.
Costumo pensar que, quando nós temos um problema muito grande, é como se estivéssemos de frente para uma parede enorme, com o nariz colado a ela. Nessa posição, não conseguimos enxergar a parede como um todo.
Se a parede simboliza o problema, quando estamos olhando bem de perto, não temos um panorama geral. Logo, esse problema parece intransponível, impossível de solucionar.
O desespero nos faz esquecer de algo fundamental: para solucionar o problema é preciso olhar o que o rodeia. Assim como, para enxergar toda a parede, é preciso dar alguns passos para trás.
Acontece que a vida, essa malandra, não desacelera para que olhemos o que rodeia nosso problema. Não há muito como fugir do fato de que teremos que trocar os pneus com o carro em movimento.
Acho que esse foi um dos maiores aprendizados que tive desde o dia 09 de Março, quando minha vida virou de ponta cabeça: infelizmente, não ia dar tempo de parar para chorar. Eu teria que chorar enquanto fazia o que precisava ser feito no restante das minhas obrigações. Era sucumbir ou lutar.
Ao longo desse tempo, ouvi histórias muito mais complicadas do que a que eu estava passando. Afinal, já disse e repito: meu ex é uma boa pessoa, um homem decente.
Ouvir as histórias dessas mulheres me deu um choque de realidade: se elas conseguiram resolver problemas muito piores do que os meus, às vezes com parceiros inescrupulosos, eu tinha a obrigação de me mexer rápido e não definhar.
Sem saber, pessoas que me contaram suas histórias por direct me deram força para levantar.
E é nesse ponto que gostaria de chegar: acredito que há várias coisas que podemos fazer para nos ajudar a sair de uma situação de muita dor. Mas, dessa vez, entendi que uma delas é conhecer problemas piores que os nossos.
Sei que a pior dor é sempre aquela que dói na nossa pele. Mas ver pessoas que lutaram e venceram problemas mais agudos, com menos condições ou menos apoio, nos faz ter a humildade de reconhecer que, sim, as coisas poderiam ser piores.
Parece um argumento simplista esse de pensar que há pessoas com problemas piores. Mas, dessa vez, resolvi me prender isso. E acho que o resultado dessa atitude foi o que me ajudou a transformar todo o cenário de dor: quando entendemos que o nosso problema não é o pior do mundo, passamos a agradecer por aquilo que temos. E a gratidão tem um poder muito, mas muito maior do que jamais poderemos conceber.
Fui abençoada por ter pessoas que me contaram por mensagem seus problemas. Isso me trouxe a humildade de enxergar que o meu era menos pior. Mas, se as pessoas não te contarem seus problemas, você pode buscar saber alguns deles.
Mais eficiente do que nos entregarmos sem volta para a dor, é encontrar motivos para nos orgulharmos de nós mesmas. Uma das maneiras de conseguir isso é pelo trabalho. A outra, é sendo útil para os outros.
Sempre haverá alguém por perto em uma situação mais delicada do que a nossa. Se você tem comida na sua mesa, já tem problemas menos agudos do que milhões de pessoas ao redor do mundo.
Não estou sugerindo que você pare para resolver os problemas dos outros quando estiver sofrendo com o seu próprio. Apenas peço que os reconheça e observe. Olhar com humildade para histórias mais duras do que as nossas faz com que nos lembremos de que sempre há algo que podemos fazer para seguir em frente.
Observar caminhos mais espinhosos nos lembra de que ainda temos condições de abrir passagem com nossas próprias mãos. Quando menos esperamos, vencemos a inércia e estamos caminhando. E decidir seguir em frente é o primeiro passo para vencer a dor.
Até a próxima pink letter,
Gabriela Pazos
Gabi, você é muito especial! Eu amo pensar, contar, refletir, através das palavras; adoro escrever, e sempre que preciso colocar algo pra fora, expressar algo para alguém, faço através de palavras, me podando pra não escrever longos textos, pois a maioria já olha com "maus olhos" o tamanho dos mesmos. Acompanho você há tempo, mas recentemente tenho acompanhando a Pink Letter; que delícia ler, na verdade "ouvir" você falar, pois quem entra e viaja na leitura, sente você docemente ou firmemente lendo. Parabéns por este e por todos os textos, cheio de delicadeza, mas cheio de força e coragem, e isso preenche nossa alma, nos acrescenta. E quem ama ler/escrever, sente mais incentivo, como é bom! Aqui em Blumenau, domingo friozinho e chuvinha gostosa, com uma leitura leve e tão profunda, melhor reflexão pra iniciar a semana. Admiro-te muito!
A cabeça do ser humano é louca né? Eu sempre pensei sobre isso de olhar pros problemas dos outros e ver que em alguns casos são maiores que o meus, isso, no meu caso, me trouxe uma coisa bem ruim. Eu minimizo meu problema, não me permito sentir a dor que ele causa, afinal, poderia ser pior e no fim das contas me acho uma incapaz de resolvê-lo. Aí fico me remoendo com isso....
Cada um tem uma percepção diferente, isso talvez seja uma das belezas da vida.