“A melhor forma de conseguir apoio é com resultados".
Sempre tive simpatia por gente que sorri com os olhos. Não sei bem colocar em palavras esse tipo de sorriso, mas você certamente conhece alguém que, quando sorri, fica com os olhos apertados, bem pequenos. Brinco que é um sorriso que deixa a pessoa japonesinha. Por algum motivo que também nunca soube explicar, essas pessoas geralmente me parecem confiáveis.
Talvez seja puro romantismo de boteco: achar que o formato do sorriso de alguém denota algo do caráter da pessoa. Mas se a vida não tiver um pouco de abstração, a ponto de sorrisos não chamarem mais a nossa atenção, esse texto começaria mais duro que concreto, e você não estaria agora se lembrando do sorriso japonesinho de alguém que certamente já cruzou o seu caminho.
O rapaz, que parecia bem jovem, pegou o microfone e, enquanto se apresentava e sorria, várias pessoas na sala abriram um sorriso também. Era a última palestra do mastermind em que estávamos e o clima de saudade dos momentos legais que o grupo passou junto já dava seus primeiros sinais.
No dia anterior, a minha palestra tinha sido a última também e, a despeito do nervosismo fora do normal e dos erros que cometi ao longo da apresentação — tema para outra pink letter —, havia um garoto que prestava atenção de maneira genuína ao que eu dizia. Era o mesmo que estava fechando a última palestra do evento agora.
E então, veio a provocação em um dos slides da apresentação:
"A melhor forma de conseguir apoio é com resultados".
A lucidez dessa frase — e de várias outras que o garoto soltou no decorrer dos slides — continua me espantando, enquanto busco organizar minhas ideias com relação à dolorosa verdade que essa afirmação carrega.
Quando criei o #desafiodos30textos e comecei a escrever com regularidade, em 2018, uma das minhas angústias era querer ser lida por pessoas importantes para mim. Parecia que a validação dos primeiros pouquíssimos leitores que foram surgindo timidamente pelo Instagram não era suficiente enquanto meu pai, minha mãe, minha irmã e o namorado que eu tinha na época não incentivassem de alguma maneira o que eu fazia.
Hoje, presunção e imaturidade são termos brandos para descrever o que penso da atitude que eu tinha na época. Primeiro, porque eu escrevia mal pra burro, logo, se essas pessoas me elogiassem, não seria por mérito meu, mas um elogio barato, vazio, um tapinha nas costas de quem, no fundo, não gostou do que viu.
Segundo, porque, hoje, me soa descabida a ideia de achar que alguém deveria parar para incentivar algo que, além de ruim, fazia parte de uma aposta que era só minha, um risco que eu decidi correr quando comecei a rascunhar e publicar minhas ideias por aí.
Terceiro, porque quem diabos eu pensava que era para achar que as pessoas que são importantes para mim deveriam ler meus rabiscos? (A título de reflexão pessoal, sugiro que releria a frase trocando o trecho “ler meus rabiscos” por aquilo que você mesmo espera das pessoas que são importantes para você).
"A melhor forma de conseguir apoio é com resultados".
A frase da palestra do rapaz sorridente fez com que eu me envergonhasse do que esperei dessas quatro pessoas, há cinco anos. Nenhuma delas tinha a menor obrigação de me dar apoio algum, muito menos apoiar alguém que quer escrever em um país que não lê.
Muitas vezes, apoiar algo que ainda precisa melhorar muito, e que tem aparentemente poucas chances de vingar, é ser conivente com o ciclo de fracassos de alguém que amamos. Desculpe se pareço pessimista demais, mas o fato é que, em 2018, eu já colecionava alguns fracassos. Qualquer pessoa que apoiasse a minha ideia de escrever estaria fazendo, na verdade, um desserviço ao meu futuro profissional.
Não sei qual tipo de apoio você espera e nem de quem. Mas, como disse o rapaz sorridente, “a melhor forma de conseguir apoio é com resultados”.
É possível que a sua jornada seja solitária nesse sentido também. Talvez você espere a validação de uma ou mais pessoas importantes para se sentir motivada a perseguir algo que deseja muito ou até mesmo se sentir minimamente valorizada.
Mas, quanto mais cedo você entende e aceita que ninguém te deve apoio algum, e que as pessoas que são importantes para você não têm obrigação de sonhar seu sonho — até porque elas também têm os delas —, maior a consciência de que é sua responsabilidade encontrar maneiras de ter êxito naquilo que busca.
É ruim ter de admitir, mas a estrada é esburacada mesmo. Há um punhado de pedras no caminho, alguns desmoronamentos que chegam sem avisar, e a sinalização é escassa. Tatear o percurso ao seu próprio modo, não ter um mapa, arriscar tomar atalhos e perder o rumo são dores que todo mundo que decide recalcular a rota acaba enfrentando.
Mas você sabe o que acontece com quem não para por nada na busca pelo que quer.
Você conhece uma ou mais pessoas quue enfiaram algo na cabeça, mesmo sem apoio, e tiveram resultados. É bem provável que nem todas tenham sido imaturas como eu, e entenderam muito mais rápido que ninguém nos deve apoio algum. Outras, precisam de um tempo até aceitarem o fato de que um sonho é a coisa mais particular que um ser humano carrega na vida, e que cabe a cada um buscar meios de realizá-lo, ainda que ninguém veja sentido algum naquilo.
Ninguém estava errado, lá em 2018, ao não bater palmas para as vergonhas que eram meus primeiros textos. O sonho era meu, a labuta deveria ser minha.
Gostemos nós ou não, “a melhor forma de conseguir apoio é com resultados”. Ontem, o rapaz sorridente que deu a última palestra do evento — e que também já teve que provar seus resultados para ser apoiado — me lembrou de como consegui fazer da escrita o meu trabalho em um país que não lê, depois que parei de esperar a validação de outras pessoas e foquei no que precisava fazer concretamente.
Na próxima vez em que esperar apoio ou incentivo de alguém — e ao menor sinal de que isso possa te paralisar na busca pelo que deseja — experimente se lembrar de que ninguém tem obrigação de te apoiar, e de que os resultados que você conquistar por si mesma são aquilo que trará o apoio que você tanto espera. Aceitar alguns fatos com um sorriso no rosto faz a vida parecer menos pesada. Pude comprovar isso na palestra de ontem do Gui Cardoso.
Até a próxima pink letter,
Gabriela Pazos
"Um sonho é a coisa mais particular que um ser humano carrega na vida, e que cabe a cada um buscar meios de realizá-lo, ainda que ninguém veja sentido algum naquilo."
Vou guardar essa frase comigo, com toda a certeza! Muito obrigada por essa pink letter, Gabi! Dias atrás até estava conversando com a minha psicóloga sobre isso. Ela me perguntou: "E se ninguém te incentivasse, você desistiria?". Eu dei aquele sorrisinho sem graça e ela respondeu: "Não, você não deve desistir, porque você precisa ser sua principal incentivadora".
E o que você falou hoje completou perfeitamente o ponto: somos responsáveis pelo o que fazemos da nossa vida. E ter a consciência disso nos ajuda a avançar, a construir nosso caminho e, acima de tudo, se orgulhar dos nossos avanços! Muito obrigada por essa pink letter que guardarei dentro do meu coração para sempre! <3
Na verdade, esse sorriso que tanto te agrada, já foi estudado pela neurociência e teve a sua percepção confirmada: "pessoas com esses traços nos olhos quando sorriem costumam ser mais confiáveis", em resumo.
Fico pensando como não é pra você agora, que além de ter alcançado o senso crítico sobre o que escreve, em todo texto que publica, cava um canteiro e põe uma semente, rega com todo o resto que fala sobre ler, escrever, pensar... ❤️