— Nossa, que moça bonita, até o cartão de crédito dela combina com a cor da roupa.
A frase foi de uma mulher muito sorridente, em um pedágio de estrada.
Ela apontou para uma outra funcionária que estava próxima e comentou a frase acima, sobre a cor do meu blazer e do cartão que usei para pagar o pedágio. Sorri quando ela disse aquilo porque adoro pessoas que têm senso de humor enquanto estão trabalhando, e tenho a impressão de que isso é cada vez mais raro.
— Você tá indo passear, né?!
Congelei por dois segundos quando ouvi a pergunta e não contive as lágrimas que vieram aos olhos, já com aspecto de cansados depois de tanto chorar ao longo do dia.
— Na verdade, eu estou me separando.
Nesse momento, quem ficou sem palavras foi a mulher sorridente.
— É sério isso, filha? — Ela deve ter perguntado por perguntar, já que o meu rosto denunciava que eu não estava brincando.
— Sim, é verdade.
— Você tá indo encontrar com ele?
— Não, estou me mudando, vim de Santa Catarina hoje. Ele ficou no apartamento em que a gente morava juntos.
Digitei a senha do cartão e percebi que estava contando da minha separação para uma mulher debruçada na janela do passageiro do carro (ela trouxe a maquininha que estava em outra cabine), no meio do pedágio, num domingo nublado e cinza. Que coisas estranhas a tristeza nos leva a fazer.
— Olha, tenha força e entrega pra Deus porque eu sei que ele vai te trazer o melhor e vai cuidar de você. E não chora, hein!
Sorri quando ela disse a última frase porque foi com o tom de alguém que deseja o bem, ao mesmo tempo em que dá uma bronca. Saí com carro e, obviamente, chorei pelos próximos quilômetros de estrada.
Foi um dia de muitas emoções juntas. Despedir-me do meu apartamento, da cidade que eu adorava e do estado pelo qual me apaixonei já seria ruim por qualquer motivo. Mas fazer isso por conta de um fim de relacionamento é ainda pior. A gente vai embora de um lugar com o coração apertado, com a alma exposta.
Alguns quilômetros e muitas lágrimas depois do pedágio, lembrei-me de uma conversa de 3 horas que tive com um grande amigo na sexta-feira. Ele me disse “Gabi, quando a tristeza vier, lembre-se de tudo o que você tem de bom: saúde, determinação, inteligência, força. Deus te deu tudo isso e é hora de usar para seguir adiante. Mais do que isso, é hora de agradecer pelo que você tem”.
Agradecer pelo que tem. Essa ideia não sai da minha cabeça desde sexta-feira. Eu não tenho mais meu relacionamento, não divido mais a vida com o homem com quem imaginava casar e ter uma família, não vou terminar a obra no apartamento que comprei há poucos meses, não tenho mais uma vida a dois e um futuro juntos para planejarmos. Mas tenho coisas que são tão importantes quanto tudo isso.
E mais: tenho a possibilidade de ir atrás de tudo o que eu tinha novamente, porque não existe fim da linha para quem insiste em buscar a felicidade.
Ontem, quando desci a serra depois do pedágio em que a mulher sorridente falou comigo, cheguei à cidade na qual vou morar por algum tempo. Aluguei por um tempo um Airbnb literalmente em frente à praia, para não ter desculpa de não caminhar pela orla enquanto reflito sobre os próximos passos que darei na minha vida.
Enquanto escrevo essa Pink Letter, lembro do conselho do meu amigo: agradecer pelo que temos. Jamais imaginei poder escolher a cidade e o lugar em que moraria enquanto lido com a tristeza de uma separação. É a primeira vez na minha vida que escolhi o que queria, e não o que dava. E devo isso ao meu trabalho no Instagram nos últimos anos, desde que comecei a vender meus infoprodutos.
Quando Deus tira alguém ou alguma coisa da nossa vida, é difícil acreditar que é para abrir espaço para algo ainda mais grandioso. Tendemos a achar que somos umas azaradas e lamentar pelo que perdemos. Mas meu amigo e a mulher sorridente do pedágio me ajudaram a lembrar que sempre há algo melhor nos esperando, só não podemos nos acovardar e parar de buscar.
E é nessas horas que eu acredito que o trabalho ajuda a manter os dois pés no chão.
Enquanto ocupa sua cabeça com aquilo que sabe fazer de melhor profissionalmente, você se sente ativa, se sente útil, conquista coisas boas e, principalmente, entende que a sua vida não acabou, e que ainda há muito a ser feito por você mesma e por quem você ama.
Quando não puder controlar o destino, dedique-se ao seu próprio trabalho. Parece algo simples, mas repare que você se sentirá mais forte e capaz. E isso te ajudará a minimizar a dor, enquanto você busca outros caminhos para sorrir como antes, ou para sorrir ainda mais.
Até a próxima pink letter,
Gabriela Pazos.
Deus não fecha uma porta sem ter outras muito mais majestosas par abrir. Pode não ser no nosso tempo e nem do nosso jeito, mas Ele tem.
Deixar a dor atravessar pra ela passar, chorar quando tem que chorar, rir quando tem que rir e olhar para todos os “do nada” que vêm acontecendo há alguns dias na sua vida.
Em dor achamos que Ele nos esqueceu. Mas na maioria das vezes ele só está querendo que nós paremos pra ouvi-lo. Na dor silenciamos, ficamos sozinhas, e por isso abrimos a “orelha” pra ele.
Daqui um ano, eu tenho certeza, tudo vai fazer sentido.
Amo você. 💞
Seu texto de hoje me lembrou de uma frase que já ouvi: "a vida que é para ser nossa existe, mas ela precisa que a encontremos". E é exatamente como você disse, Gabi: "Deus tira sim, mas para algo grandioso". Desejo que a nova cidade lhe proporcione novas histórias e um novo capítulo em sua vida. Certamente, batalhar pelo que se almeja é algo que você nos tem mostrado ser incansável e isso é maravilhoso!