“O que é percepção? É como vemos e entendemos o que ocorre ao nosso redor – e o que decidimos que esses eventos significam. Nossas percepções podem ser uma fonte de força ou de fraqueza. Se formos emocionais, subjetivos e míopes, apenas aumentaremos os nossos problemas (...). É preciso habilidade e disciplina para afastar as percepções ruins, discernir os sinais confiáveis dos enganosos, filtrar o preconceito, a expectativa e o medo. Mas vale a pena, pois o que resta é a verdade (...). Veremos as situações de maneira simples e direta, como realmente são – nem boas nem más. Essa é uma vantagem incrível na luta contra os obstáculos”.
O trecho é do livro “O obstáculo é o caminho”, do Ryan Holiday, que é um autor que tem a capacidade de reunir diversos exemplos de pragmatismo e objetividade para nos ajudar a enxergar as situações da vida com menos emoção e uma postura mais resolutiva.
Há alguns anos, li uns trechos desse livro. Que bom que o li inteiro justo agora, semanas depois do término do meu relacionamento. O Ryan nem sabe, mas, por aqui, as palavras dele ajudaram a segurar várias lágrimas que insistiam em querer cair.
Em uma das vezes, isso aconteceu quando fui usar o Waze, e reparei que o endereço salvo como “casa” era o do meu apartamento em Santa Catarina ainda. A primeira reação instintiva foi sentir tristeza pela casa que nem chegou a ter a obra finalizada. Uma tristeza pela casa que era só concreto e nunca virou lar.
E a segunda reação foi pior. Digo isso porque ela foi bastante esquisita. Eu não quis apagar o endereço de Santa Catarina do Waze, quase como se houvesse alguma esperança de que aquele lugar ainda voltasse a ser a minha casa, o que implicaria em retomar o meu relacionamento.
No fundo, eu sabia que nenhuma das duas coisas aconteceria, mas era assim que queria encarar a situação. Foi só quando li esse trecho do livro do Ryan Holiday, que consegui raciocinar com clareza.
“O que é percepção? É como vemos e entendemos o que ocorre ao nosso redor – e o que decidimos que esses eventos significam. Nossas percepções podem ser uma fonte de força ou de fraqueza.”
Até aquele momento, a minha percepção ao ver o endereço do meu antigo apartamento no Waze era de fraqueza. Mas aquilo já tinha me feito mal o suficiente por vários dias. E então, decidi encarar a situação de uma maneira diferente, decidi mudar a percepção que tinha sobre aquilo.
O endereço que estava salvo como a minha “casa” no Waze cumpriu a sua função durante um tempo. Bem pouco tempo, é verdade. Mas, ainda assim, tempo o suficiente para me trazer muita alegria, momentos prazerosos com meu ex namorado, e uma sensação imensa de conquista pelo meu primeiro imóvel.
Aquilo não podia ser motivo de tristeza. Pelo contrário, eu queria que a minha percepção sobre essa situação fosse uma fonte de força, como o livro propõe, e não de fraqueza.
Só que as coisas não mudam de cenário por si só. O esforço de dar um novo significado a algum evento da nossa vida é algo pessoal, depende da nossa atitude e da maneira como escolhemos enxergar as situações ao nosso redor.
No último domingo, quando estava indo para o culto, liguei o Waze para chegar até a igreja. O primeiro endereço que aparecia no aplicativo com o nome “casa” ainda era o do apartamento de Santa Catarina. Fiquei olhando para o nome daquela rua por alguns segundos, enquanto as lembranças da minha vida naquele lugar dançavam pela minha memória. Eu não sabia se queria esquecer de vez ou me deixar levar por aquelas imagens que ainda eram tão vívidas.
Parece que foi ontem que eu saí de lá, mas era hora de cortar os laços. Era hora de abrir espaço para uma vida nova – a minha sorte é que aqui também tem praia.
Deletei o endereço de Itajaí. Ali, no campo “casa”, eu nem sequer tinha certeza de qual endereço incluir. “Eu fico mesmo aqui? Vou para outra cidade? Caio no mundo de novo como viajante? Passo um tempo em Barcelona?”. Não soube responder. Respirei fundo e entendi que não era hora para isso. Lembrei do livro novamente:
“É preciso habilidade e disciplina para afastar as percepções ruins, discernir os sinais confiáveis dos enganosos, filtrar o preconceito, a expectativa e o medo. Mas vale a pena, pois o que resta é a verdade”.
A verdade era que eu precisava me encontrar comigo mesma, não importa em qual parte do mundo estivesse. E esse movimento já tinha começado a acontecer, no dia em que passei a frequentar o culto e refletir o real motivo da minha existência.
Salvei no Waze o endereço do Airbnb em que estou morando por dois meses, até decidir para onde vou em seguida. Nesse momento, agradeci pela autonomia que o trabalho no digital proporciona. Se não fossem os infoprodutos que criei nos últimos dois anos, eu não teria a chance de escolher onde morar enquanto a poeira baixa.
Hoje, estou em Santos, no litoral paulista. Quem sabe para onde os ventos soprarão depois. Antes de ligar o carro e pegar a direção da igreja, lembrei mais uma vez do livro:
“Veremos as situações de maneira simples e direta, como realmente são – nem boas nem más. Essa é uma vantagem incrível na luta contra os obstáculos”.
Santa Catarina não faz mais parte do meu caminho, e começo a entender que isso não é bom nem ruim, é só o que é.
Qualquer que seja a dificuldade que você enfrenta na sua vida, espero que te sirva como uma fonte de força. E não subestime o poder que pequenas atitudes podem ter para tirar certos pesos das suas costas. Talvez, metaforicamente, haja algum “endereço do Waze” que você precise deletar também para se ver livre de um passado que, querendo ou não, já não existe mais.
Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, logo, para o novo entrar, o velho precisa sair. Do lado de cá, torço para que você se despeça em grande estilo.
Até a próxima pink letter,
Gabriela Pazos.
Suas palavras chegaram em um momento que cada uma delas fizeram total sentido na minha vida. Preciso mudar o endereço do meu Waze e dar chance a novas oportunidades. Ainda estou olhando para o passado, mas isso não faz mais nenhum sentido. Muito obrigada por compartilhar conosco as suas percepções💗
Recalcular a rota... Acho tão perfeita essa frase tirada do Waze... Tira o peso das mudanças de planos, dos contratempos e da nossa falta de controle sobre a vida... Surgiu um alagamento, um obstáculo, um acidente de percurso, para um pouco, pensa e recalcula a rota... Muito bacana suas reflexões ❤️